Um levantamento inédito feito pelo Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, sediado na comunidade Nova Holanda (RJ), mapeou e ouviu a população LBGTQIAP+ que mora nas favelas cariocas. A pesquisa mostrou que metade dos LGBTs que responderam à pesquisa alegou que passaram por discriminação em ambiente de trabalho, dentro e fora da favela que moram.
Ao todo, 1.705 pessoas de 60 comunidades responderam a pesquisa entre 2022 e 2023. Dos entrevistados, 47% já tiveram suas moradias invadidas e 24% contaram que já se sentiram ameaçadas em uma abordagem por sua identidade de gênero ou orientação sexual. O levantamento aponta que a população LGBTI+ enfrenta diversas formas de preconceito no seu dia a dia, seja no acesso ao emprego, à renda e à saúde.
Sob o jugo do crime organizado — seja tráfico ou milícia —, a vítima de homofobia fica praticamente desamparada. “Na favela, existem regras, muitas delas trazidas por igrejas neopentecostais, que nos colocam em risco“, destaca a coordenadora do projeto, Gilmara Cunha ao G1. “Como vamos denunciar um agressor que mora a três casas da nossa?”, questiona. “A criminalização da homofobia não funciona e não vai funcionar dentro das favelas”.
Em relação à empregabilidade, o emprego informal é a opção para 35% dos entrevistados. Apenas 28% estão formalmente empregados e 19% desempregados. Além da dificuldade para conseguir emprego com carteira assinada, o estudo mostra que metade da população LGBTI+ que mora nas favelas cariocas afirma já ter sofrido discriminação sexual ou de gênero no ambiente de trabalho. Dentre essas, 20% são vítimas recorrentes de homofobia.
A pesquisa aponta, ainda, uma divisão no acesso à saúde entre o público LGBTI+. Enquanto 49% das mulheres trans vão ao médico mais de duas vezes ao ano, 40% dos homens trans afirmam que raramente vão. O estudo também mostrou que cerca de 9% dos pesquisados sobrevivem com menos de R$ 500 por mês.
Raça:
53% se declararam negros;
24%, brancas;
13%, amarelas;
9%, indígenas;
1% não respondeu.
Impacto da Polícia:
48,28% já sofreram violência em uma abordagem policial;
47,80% já tiveram suas moradias invadidas;
70% disseram terem ficado impossibilitados em alguma ocasião de ir para casa em decorrência de operações policiais;
24,28% contaram que já se sentiram ameaçadas em uma abordagem policial por sua identidade de gênero ou orientação sexual.
Agressões e Assédio:
23,5% declararam já terem sofrido assédio sexual;
25,5%, abuso psicológico;
80% das que se declararam lésbicas afirmaram que foram vítimas de assédio sexual;
60% dos homens gays relataram assédio moral.