Xica foi trazida do Congo para ser escravizada em Salvador no século 16 e se recusava a vestir trajes ligados ao imaginário do guarda-roupa masculino da época. Assim, foi acusada de sodomia e julgada pelo Tribunal do Santo Ofício por heresia. Foi condenada à pena de ser queimada viva em praça pública e ter seus descendentes desonrados até a terceira geração. Para não morrer, abdicou das roupas e adotou o estilo direcionado aos homens.
Documentada como homem homossexual, a africana teve sua história relida e foi classificada como travesti pela ativista negra Majorie Marchi. Desde então, Manicongo foi abraçada pela comunidade de travestis e transexuais como símbolo de resistência. Seu sobrenome era um título utilizado pelos governantes para se referir aos seus senhores e às divindades. Dessa forma, pode-se traduzir seu nome como “Rainha ou Realeza do Congo“.
“O título do enredo é uma provocação. A quem interessa apagar a história de Xica Manicongo? Ela foi transgressora em sua trajetória, foi fichada pela Santa Inquisição e virou símbolo de luta das pessoas trans“, explica Jack.