Autora discute ‘saída do armário’ e fé cristã em novo livro.
No Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, celebrado na última quinta-feira (29), a jornalista Raquel Costa lançou seu livro “Saindo do Armário e Ficando na Igreja: Uma história de fé. Sem Religião” na Livraria Travessa, localizada no Shopping Casa Park em Brasília. A obra de 110 páginas é um relato pessoal que mira apoiar a comunidade cristã homossexual através da experiência da própria autora.
Costa, criada em um lar Batista e envolvida desde cedo com atividades eclesiásticas, detalha no livro os desafios de ser homossexual dentro de um ambiente evangélico conservador. Ela fala sobre como a pressão para se conformar às expectativas tradicionais de orientação sexual a levou a buscar relacionamentos heterossexuais. “Se eu estava namorando, não era gay e, se não era gay, paravam as provocações e o medo de ser quem eu era. Mesmo que isso causasse dor e frustração”, contou. O livro também destaca dados sobre a violência e saúde mental da população LGBTQIA+, mostrando que o Brasil lidera as estatísticas de homicídios de homossexuais e aponta riscos elevados de depressão e suicídio, agravados em ambientes hostis à diversidade sexual e de gênero.
Das restrições vividas por crescer em um lar evangélico até a decisão de se assumir homossexual e não abandonar a igreja, o caminho não foi linear. Culpa, tristeza, medo, solidão, vergonha. 37 anos até a aceitação. Estas páginas narram essa trajetória. Está tudo aí: o sentimento de inadequação da infância, as culpas da adolescência, a solidão no início da fase adulta, as crises de ansiedade, o longo processo de aceitação, a conversa com o pastor da igreja que frequenta até hoje, os amores, as desilusões, o fim do silenciamento. Raquel é corajosa, consistente e não se limita a contar sua história. Também traz o relato de amigos homossexuais evangélicos que vivenciaram processos parecidos com o dela, além de entrevistar a psicóloga Marina Costa e os pastores Bob Luiz Botelho e Henrique Vieira. A homossexualidade ainda é um tabu na maioria das igrejas evangélicas. Nesse contexto, o relato de Raquel tem ainda mais impacto. Sua honestidade e franqueza são um convite à reflexão. Que mundo é esse que usa a religião para cercear a liberdade de milhares de pessoas? Por que reproduzir interpretações equivocadas da Bíblia e passar por cima do principal ensinamento de Jesus: o amor ao próximo? Raquel demorou a se entender merecedora de ser quem ela é. No entanto, quando ela o faz e acredita na sua voz, seu mundo se expande. E o nosso também.
Esconder-se no armário Além de seu relato, Raquel Costa inclui no livro experiências de outros evangélicos homossexuais e entrevistas com especialistas como a psicóloga Marina Costa e os pastores Bob Luiz Botelho e Henrique Vieira. “A minha história não é única, muito menos meu sofrimento. E tanto minha história quanto o meu sofrimento se assemelham a milhares de outras histórias, felizes ou não”, afirmou. A autora enfatiza que o armário, frequentemente usado como metáfora para ocultar a orientação sexual, pode ser ao mesmo tempo um abrigo e um castigo. Costa explora a dualidade desse “espaço”, que pode ser tanto um abrigo quanto um castigo. “Abrigo porque é nele que a gente se esconde enquanto tenta ser a pessoa que a nossa família, os amigos e a sociedade em que vivemos esperam. E castigo porque é um espaço onde só cabe a gente e todas as loucura