Imunização da gestante confere proteção ao recém-nascido, idade na qual acontecem mais complicações e óbito pela doença.
A coqueluche começa como um resfriado comum, com febre baixa, mal-estar geral, coriza e tosse seca. Gradualmente, a tosse se torna mais intensa, podendo causar vômito e dificuldade de respirar. Justamente por isso, crianças menores de seis meses são mais propensas a formas graves da doença, que podem evoluir para pneumonia, parada respiratória, convulsões e desidratação. Em 2024, o Brasil já registrou 13 óbitos pela doença, todos em crianças menores de um ano de idade.
A vacinação é a principal forma de prevenção contra coqueluche. No Sistema Único de Saúde (SUS), em atenção ao Calendário Nacional de Vacinação, ela é oferecida para crianças a partir de 2 meses de vida até menores de 7 anos, gestantes, puérperas (até 45 dias pós-parto) não vacinadas durante o período gestacional e para grupos prioritários: profissionais da saúde, parteiras tradicionais e estagiários da área da saúde.
Para crianças menores de 7 anos de idade o esquema primário recomendado é composto por três doses da vacina penta (aos 2, 4 e 6 meses de vida), com intervalo de 60 dias entre as doses, mínimo de 30 dias (em situações especiais). Reforços estão recomendados aos 15 meses (1º Ref.) e aos 4 anos (2º Ref.), com a vacina tríplice bacteriana infantil (DTP).
Para as gestantes, é indicado uma dose da vacina tríplice bacteriana acelular – tipo adulto (dTpa), a cada gestação, a partir da 20ª semana gestacional, com o objetivo de promover a imunização passiva (passagem de anticorpos por via transplacentária da mãe para o feto) dos recém-nascidos, nos primeiros anos de vida, até que o bebê possa iniciar a sua vacinação.
Para pessoas que apresentam condições clínicas especiais, outras vacinas contra a coqueluche também são disponibilizadas nos Centros de Referências para Imunobiológicos Especiais (CRIE), conforme recomendações do Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais.
Vigilância e controle
A coqueluche é uma infecção respiratória de alta transmissibilidade, causada por uma bactéria (Bordetella pertussis) que circula em todo mundo. Assim, é normal que ocorram um aumento de casos da doença em intervalos médios de cinco anos.
Por isso, além de manter a caderneta de vacinação das crianças em dia e das gestantes a cada gestação, são fundamentais a manutenção de medidas de vigilância e controle, considerando as características/perfil epidemiológico da doença. Os estudos mostram que a efetividade da vacina aplicada na gestante é de 82% para o bebê”, explica Eder Gatti, diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações (DPNI).
O Ministério da Saúde tem investido em ações para recuperar as taxas das coberturas vacinais no país, em queda desde 2016. Microplanejamento e ações regionalizadas, respeitando as características específicas dos territórios e um enfrentamento massivo à desinformação, possibilitaram um aumento da cobertura vacinal de 2022 para 2023. “Ano passado, o Brasil apresentou a cobertura vacinal de 85,71% para a vacina penta e 78,28% para a vacina DTP (1º reforço). Nosso objetivo é chegar à meta de 95% preconizada pelo PNI para diminuir a circulação da bactéria no Brasil e, consequentemente, o número de casos e óbitos pela doença”, afirma Eder Gatti.
Situação epidemiológica
O último pico da doença no Brasil havia sido em 2014, com registro de 8.620 casos confirmados, sendo 5.132 (59,5%) em menores de um ano de idade. Além de 127 óbitos, todos em menores de um ano de idade. Os estados com mais casos foram São Paulo, Pernambuco e Bahia. Desde então, os registros foram caindo e de 2020 a 2023, o país registrou cerca de 200 casos por ano, com apenas um óbito no período.
Em 2024, acompanhando a tendência mundial, os registros voltaram a subir. Segundo dados atualizados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), até 31 de outubro, há 3.252 casos confirmados, sendo 801 na faixa etária entre 10 e 14 anos. Todos os 13 óbitos registrados no ano foram em crianças menores de um ano de idade; a maioria eram filhos de mães não vacinadas durante o período da gestação e. Os estados que registraram o maior número de casos da doença são Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Rio Grande do Sul.
De acordo com o diretor do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Eder Gatti, o aumento de casos em adolescentes em 2024 pode ser explicado pela ampliação do acesso aos testes diagnósticos e também pela redução da imunidade conferida pela vacina ao longo dos anos.