Dezembro Vermelho destaca cuidados e prevenção ao HIV entre idosos
Especialistas pedem atenção à saúde sexual de idosos após aumento de casos de HIV na população acima de 60 anos
O Dezembro Vermelho, campanha nacional de conscientização sobre HIV, AIDS e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), chama a atenção para um dado preocupante: o aumento de casos de HIV em idosos no Brasil. Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2021, o número de diagnósticos de HIV em pessoas acima de 60 anos quadruplicou, totalizando 12.686 novos casos. No mesmo período, foram registrados 24.809 casos de AIDS e 14.773 mortes na faixa etária.
Fatores e causas
Como funciona o tratamento em idosos? A reação ao diagnóstico de HIV na terceira idade, segundo o especialista, muitas vezes envolve negação, perplexidade ou tristeza. Por isso, o acolhimento sem julgamento é essencial para que o tratamento comece rapidamente. “Não podemos nos esquecer da questão da saúde mental e emocional dessas pessoas, uma vez que o estigma social relacionado ao HIV e à AIDS pode afetar a autoestima e o bem-estar psicológico do idoso. Assim, esse suporte deve fazer parte do tratamento”, afirma o médico. A terapia antirretroviral (TARV), amplamente disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), é eficaz no controle do vírus, mas exige atenção especial em idosos: “No entanto, o uso desses medicamentos tem algumas particularidades nesta faixa-etária, sendo comum que a pessoa tenha comorbidades e doenças crônicas”, ressalta o especialista. Para lidar com as particularidades dessa faixa etária, médicos precisam adaptar tratamentos, evitando fármacos que possam prejudicar o funcionamento de órgãos como rins e coração. Ajustes na dosagem ou na combinação de medicamentos são frequentemente necessários para equilibrar o controle do HIV e de outras condições crônicas. “O principal objetivo é não afetar a efetividade da terapia antirretroviral”, explica o geriatra.
ausência de preocupação com gravidez, é uma das principais razões apontadas pelo geriatra e presidente da SBGG, Dr. Marco Túlio Cintra. “É preciso ficar claro para essa faixa-etária que o preservativo não é apenas um método contraceptivo, mas também uma alternativa bastante eficaz para evitar muitas infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV”, destaca. Além disso, o aumento do uso de medicamentos para disfunção erétil e a popularização de aplicativos de relacionamento têm ampliado as oportunidades de relações sexuais sem proteção. Fatores biológicos também desempenham um papel importante nesse cenário. O médico explica que a menor lubrificação vaginal e anal, comum com o envelhecimento, e a fragilidade do sistema imunológico tornam os idosos mais suscetíveis à infecção pelo HIV. Cintra também destaca a insuficiência na divulgação de informações sobre testagem, o que impede a detecção precoce. “Mesmo quando o idoso já apresenta sintomas, como emagrecimento acentuado, os médicos sempre suspeitarão de câncer ou outra doença, mas nunca do vírus HIV. Esse ainda é um tabu dentro dos consultórios. É mito acreditar que idosos não tenham mais libido e vida sexual ativa, e isso prejudica a prevenção da doença e o diagnóstico precoce”, afirma.