Relatos que remontam ao ano de 1967, na Comunidade Quilombola de Inacha, distrito de Juaba, em Cametá, fazem referência ao que pode ter sido o primeiro casamento gay de que se tem notícia no mundo.
Ocorrido em um período de forte repressão política e ideológica, no auge da ditadura militar no Brasil, o fato chamou atenção dos moradores daquela que, à época, era considerada uma das cidades mais importantes do Pará. Mais de meio século antes de serem discutidas as questões de gênero e surgirem as primeiras manifestações abertas da comunidade LGBTQI+, a união matrimonial entre dois homens se tornou um dos fatos mais célebres do município.
Até hoje, seja em livro, como o do escritor paraense Salomão Laredo, seja em declarações de testemunhas da região, o acontecimento ainda é lembrado em Cametá. O casal já morava junto há alguns anos e resolveu formalizar a união em meio com uma grande festa que teve como ponto alto a tradicional cerimônia religiosa.
Os noivos foram vestidos a caráter. No entanto, as autoridades civis e eclesiásticas não sabiam que se tratava de duas pessoas do mesmo sexo e, dessa forma, permitiram o casamento. O prefeito e várias pessoas ilustres da sociedade local participaram da festa. Porém, ao se darem conta de que a "noiva" era um homem, armaram uma emboscada para prender os dois.
Os noivos foram chamados até a cidade sob o pretexto de receber um presente de casamento. Quando lá chegaram lá, foram capturados pelos policiais. Chegaram a ser encaminhados para uma clínica médica para serem avaliados e terem a sexualidade comprovada. Toda a população aguardava furiosa do lado de fora e, ao saber que, de fato, eram dois homens, foram levados para a prefeitura onde ficavam as celas que guardavam os presos.
O "noivo" ficou na sala do delegado e teve a cabeça raspada, enquanto a "noiva" ficou em outra cela. No dia seguinte os dois foram levados para a capital, Belém, onde nunca mais se ouviu falar sobre eles. Quando as autoridades da igreja souberam do ocorrido, ordenaram a anulação do casamento.