Dois meses após assumir publicamente o namoro com o cineasta italiano Marco Calvani , Marco Pigossi relembrou a crise de pânico que teve em 2011 por conta de uma fake news que afirmava que ele estava tendo um affiar com o ator Rodrigo Simas, seu colega na novela "Fina estampa", nos bastidores da Globo.
"Quando estava no ar com a novela 'Fina Estampa', viajei para o Rio de Janeiro, onde faria gravações. Quando desembarquei no aeroporto, abri meu celular e li uma notícia: que eu estava tendo um relacionamento com um ator da mesma novela. Era mentira absoluta. Chegava a dizer que nós nos 'pegávamos' nos bastidores. Era tudo invenção, mas as pessoas acreditam no que querem acreditar. Eu fiquei travado ao ler aquilo", revelou ele em entrevista à revista "Piauí" deste mês.
"Comecei a tremer e suar. Fui para o banheiro do aeroporto, me tranquei em uma cabine e comecei a vomitar. Liguei para meu parceiro, chorando. Eu dizia para mim mesmo que minha carreira tinha acabado. Não conseguia sair dali. Meu companheiro teve que pegar um voo de São Paulo ao Rio para me buscar. Fiquei horas trancado dentro da cabine, até ele chegar. A crise me deixou com sequelas. Passei a tomar antidepressivos e ansiolíticos. O pânico de sair do armário contra minha própria vontade ficou ainda maior", recordou.
À publicação, o ator relatou a sua jornada para assumir sua orientação sexual, desde a adolescência em São Paulo até à vida adulta como galã da Globo. Hoje radicado em Los Angeles, Pigossi namoro o cineasta italiano Marco Calvani, que conheceu durante uma viagem por Provincetown, Massachusetts, em 2019
"Estamos juntos há um ano e meio. Foi Marco que, no feriado norte-americano de Ação de Graças, postou uma foto nossa de mãos dadas. Ele me avisou antes. Eu topei, mas senti uma certa apreensão. Qual seria a reação das pessoas? Ele postou, e ficamos esperando. Começaram a pipocar comentários, então decidi repostar a foto com um stories na minha própria rede. Escrevi 'choca zero pessoas' para tirar onda com os comentários do tipo 'ah, mas eu já sabia'. Postei e fiquei com um frio na barriga", confessou.
Pigossi ttambém falou do carinho que recebeu do público após revelar o romance:
"Logo comecei a receber muitas, muitas mensagens de amigos, de colegas de trabalho, de fãs. Recebi mais parabéns do que no dia do meu aniversário. Foi uma libertação. Uma festa. Nada como viver às claras, ser o que se é em privado e em público. Talvez os futuros galas não sintam o mesmo medo que eu senti de perder minha carreira. Naquele feriado, as respostas foram um alento imenso, o acolhimento de um mundo inteiro. Marco e eu convidamos uns amigos para comemorar. Tomei um porre. E hoje me sinto invencível", encerrou.
Na entrevista, ele contou que não tinha referências gays em sua casa e que achava que sua orientação era algo passageiro.
"Eu não tinha referência alguma no meu convívio e, quando assistia à televisão, nada servia como alento. Nas novelas ou nos programas de humor, quase sempre os gays eram retratados de forma caricata, pejorativa. Então, me sentindo solitário e sem amparo, me restava torcer para que fosse apenas uma fase".
Em seu testemunho, Pigossi lembrou do primeiro grande papel que conseguiu na emissora. Trata-se de Cássio, personagem gay que marcou a novela "Caras & Bocas" de Walcyr Carrasco, com o bordão "fiquei rosa chiclete".
"Aos 20 anos, eu estava realizando o grande sonho de trabalhar como ator na maior indústria de entretenimento do país, mas vivia um drama pessoal: sentia calafrio só de pensar que o público poderia desconfiar que a sexualidade do personagem e do ator era a mesma. Essa possibilidade me aterrorizava" declarou.
Pigossi revelou que, em seu doze anos de vida pública, manteve um relacionamento com um homem que durou oito anos, morando na mesma casa, e tentando esconder a relação.
A terapia ajudou Pigossi a se autoceitar. "E então vieram a candidatura e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Meu pai votou em Bolsonaro. Durante os oito anos do meu namoro com um homem, minha família sempre soube. Mas meu namorado e eu nunca jantamos com meu pai, que jamais perguntou sobre meu relacionamento", desabafou.
"Minha vida amorosa era um não assunto. E, quando meu pai votou em Bolsonaro, senti uma dor profunda, uma tristeza profunda (...) Meu pai e eu ficamos sem nos falar durante o ano da eleição – e até hoje temos contatos apenas esporádicos. O abismo, que já era grande, tornou-se ainda maior", contou.
Fonte.https://queer.ig.com.br/