Mateus Solano revelou que a icônica cena em que seu personagem de “Amor à Vida“, Félix, deu o beijo em Niko, interpretado pelo Thiago Fragoso, quase não foi ao ar. Segundo o ator, a TV Globo foi contra o marco histórico no audiovisual brasileiro.
“Foi um caso de amor, bateu a química entre o personagem e os telespectadores. Ele foi acontecendo ao longo da história e mudou os paradigmas. Porque o dito ‘primeiro beijo gay em novelas’ aconteceu a partir da popularidade do Félix, que depois abraçou o casal com Niko”, disse Solano, em entrevista ao jornal Extra. “A Globo resistiu, não queria esse beijo. E os mais conservadores, mais homofóbicos, olhavam pra mim, davam uma risada e diziam: ‘Pô, você tem que dar um beijo naquele cara!’. Foi muito especial essa unanimidade. Com Félix, eu consegui cumprir um dos objetivos do artista: fazer com que o público reveja seus preconceitos”, continuou.
O ator ainda comentou sobre a questão da representatividade na TV. “São personagens homossexuais [Felix e Niko] que carregam estereótipos muito fortes. Por mais que Félix fosse profundo, trouxesse uma mágoa, um drama que tocou as pessoas, ele era muito afetado. Mais afetado do que poderia ser um diretor de hospital. Isso fazia parte da aceitação dele, brincava com o preconceito que as pessoas têm. Hoje, já não seria bem visto. Fico me perguntando se não é por isso que a novela nunca foi reprisada. Agora, se eu fosse convidado para interpretar uma travesti, eu não me sentiria confortável“, disse.
“E perguntaria ao máximo de travestis possíveis a opinião delas antes de cogitar aceitar o papel. Esse é um trabalho para quem é. Em ‘Quanto mais vida, melhor’, temos A Maia e Carol Marra fazendo papéis de mulheres, e não de homens que transformaram seus corpos para o feminino. Não se fala nisso. É preciso pensar até que ponto o ator ou a atriz, neste caso, é quem escolhe fazer um papel estigmatizado ou se só lhe é oferecido esse tipo de papel”, concluiu.