Levantamento inédito divulgado nesta quarta-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 2,9 milhões de pessoas se autoidentificam como homossexuais ou bissexuais no país.
Este contingente corresponde a 1,8% da população com 18 anos ou mais, proporção menor que da parcela de pessoas que não souberam ou não quiseram responder (3,4%) à pesquisa.
O estudo evidenciou que a imensa maioria da população brasileira se autodeclara heterossexual - 94,8% dos brasileiros assim se autoidentificaram. Mas o IBGE ponderou que "o fato de uma pessoa se autoidentificar como heterossexual não impede que ela tenha atração por ou relação sexual com alguém do mesmo sexo".
Esta é a primeira vez que o instituto divulga dados sobre orientação sexual. A decisão foi tomada após o órgão ter sido acionado na Justiça pelo Ministério Público Federal. O MPF questionou o fato de o Censo Demográfico de 2022 não ter incluído perguntas sobre a população LGBTQIA+.
De acordo com o IBGE, o questionário foi aplicado em cerca de 108 mil domicílios no Brasil, mas representa a totalidade da população. A amostra corresponde a, aproximadamente, 0,07% das pessoas com 18 anos ou mais de idade, estimada, em 2019, em 159,2 milhões.
Os dados são de 2019 e foram coletados por meio da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). O detalhamento das informações apontou que:
Na análise por gênero, o IBGE constatou que, proporcionalmente, a autoidentificação como homossexual é maior entre os homens (1,4%) que entre as mulheres (0,9%). Já a bissexualidade foi mais autodeclarada pelas mulheres (0,8%) que pelos homens (0,5%).
Ao analisar os dados considerando características socioeconômicas, observou-se maior proporção de autodeclarados homossexuais ou bissexuais entre aqueles com nível superior completo (3,2%) - entre os que não têm instrução ou têm o ensino fundamental incompleto essa proporção foi de 0,5%.
Também foi observada que quanto maior o nível de renda, maior a autoidentificação como homossexual ou bissexual. A proporção daqueles que declararam se relacionar afetivamente ou sexualmente com pessoas do mesmo sexo foi de 1,3% entre aqueles cuja renda domiciliar per capita era de até meio salário mínimo, de 1,6% na faixa de renda entre meio e um salário mínimo, de 1,3% na faixa entre um e três salários mínimos e de 3,1% na faixa entre três e cinco salários mínimos.
A autoidentificação homossexual ou bissexual é maior entre os mais jovens. A indefinição da orientação sexual também é mais frequente entre eles.
A proporção dos que declararam a orientaçação homossexual ou bissexual foi de 4,8% na faixa etária entre 18 e 29 anos, de 1,9% na faixa entre 30 e 39 anos, de 1% no grupo entre 40 e 59 anos, chegando a apenas 0,2% entre aqueles com 60 anos ou mais.
O IBGE apontou que os mais jovens também respondem pela maior proporção de pessoas que não souberam (2,1%) ou não quiseram responder à pesquisa (3,2%). Para a coordenadora da pesquisa, esse resultado pode representar o processo de experimentação e de aceitação da própria orientação sexual.
"Os mais jovens são, atualmente, mais propensos a experimentações e possuem mais liberdade de expressar sua orientação sexual que no passado. Entretanto, a consolidação da orientação sexual é, em muitos casos, um processo, e leva tempo para compreender e assumir suas orientações", avaliou Maria Lúcia Vieira.
A pesquisa mostrou que a autodeclaração como homossexual ou bissexual é maior nas áreas urbanas (2%) que nas rurais (0,8%). Entre as grandes regiões do país, estas orientações sexuais foram mais autodeclaradas no Sudeste, enquanto Nordeste e Centro-Oeste ficaram abaixo da média nacional.
No recorte estadual, em dez das 27 unidades da federação a proporção de pessoas autodeclaradas homossexuais ou bissexuais foi maior que a média nacional. O menor percentual de pessoas que declararam estas orientações sexuais foi observado no Tocantins, enquanto o maior, no Distrito Federal.
"A pesquisa não traz informações sobre diferenças culturais, mas diversos fatores podem interferir na verbalização da autoidentificação como homossexual ou bissexual", ressalvou a coordenadora da pesquisa.
Entre os fatores que podem interferir na autodeclaração da orientação sexual e que podem ter interferido no resultado da análise regional, Maria Lúcia destacou:
O estudo evidenciou que a imensa maioria da população brasileira se autodeclara heterossexual - 94,8% dos brasileiros assim se autoidentificaram.
"Vale ressaltar que o fato de uma pessoa se autoidentificar como heterossexual não impede que ela tenha atração por ou relação sexual com alguém do mesmo sexo", ponderou o IBGE.
Segundo o instituto, para captar em detalhes a efetiva orientação sexual da população "seria necessária a investigação do comportamento e da atração sexual, conceitos esses diferentes da autoidentificação", que foi o utilizado na coleta da PNS.
Esta foi a primeira vez em que o IBGE perguntou à população brasileira, em pesquisa domiciliar, informação relacionada à orientação sexual. Somente um morador de cada domicílio visitado pelo órgão foi convidado a responder à pergunta "Qual é a sua orientação sexual?". Eram seis as opções de resposta: