Viver à sombra da cisgeneridade, ser apagada e tolhida de seus próprios gostos e anseios ainda são algumas características da infância da grande maioria das crianças transgênero . Apesar dos muitos avanços, a sociedade cisnormativa não consegue aceitar a existência da transgeneridade e transforma em preto e branco o período mais colorido de todo ser humano, tal como aconteceu com a escritora Maria Lucas.
Nascida e criada no Valão, um sub-bairro de classe baixa dentro da favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, ela é filha de uma migrante nordestina que chegou ao Sudeste em busca de uma vida mais digna para a família. Quando nasceu, Maria sabia exatamente quem era: uma mulher artista, mas ouvia dento de casa que não poderia dizer isso, já que nasceu em um corpo supostamente masculino .
“ Desde os meus três anos de idade eu sabia e falava que era mulher e artista. Quanto a ser mulher, isso me foi privado de continuar falando e expressando”, conta em entrevista exclusiva ao iG Queer. “Com relação a ser artista, minha mãe sempre me apoiou e, ainda criança, entrei para o grupo Nós do Morro, no Vidigal, onde tive meus primeiros trabalhos profissionais”, lembra.