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Outubro Rosa: o rastreio do câncer de mama em pessoas trans

Publicada em 23/10/22 às 14:31h - 64 visualizações

por AÇAÍ VIP


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 (Foto: AÇAÍ VIP)

Especialista explica que é possível realizar a prevenção ao câncer na comunidade trans, que deve ser incluída no debate.









População trans também precisa ser incluída no debate sobre câncer de mama.
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População trans também precisa ser incluída no debate sobre câncer de mama.

O mês de outubro é marcado pela conscientização sobre o câncer de mama  o que, instantaneamente, associamos como uma ação direcionada a mulheres cis, visão que exclui uma população que tem o direito de entrar no debate - as pessoas trans.

O câncer de mama no Brasil ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres, com mais de 66 mil novos casos por ano e uma taxa de mortalidade de 14,23 para cada 100 mil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). A doença também acomete homens, porém a incidência nesse grupo representa cerca de 1% do total de casos.

Segundo a médica especializada em radiologia pelo Inca e coordenadora do setor de imagem mamária do Richet Medicina & Diagnóstico, Marcela Balaro, as sociedades brasileiras preconizam para os homens trans que não realizaram a mastectomia  (a cirurgia para retirada das mamas), a mesma recomendação do Ministério da Saúde para rastreamento em mulheres, ou seja, mamografia a partir dos 50 anos, a cada dois anos.

“Em alguns países, para os homens trans submetidos a mastectomia que apresentam tecido mamário residual e fatores de risco associados, o exame clínico e a ultrassonografia anual podem ser considerados como opções de rastreamento”, acrescenta a médica. 

Já no caso das  mulheres trans , existem poucos estudos sobre a incidência e riscos de câncer de mama. Contudo, segundo a especialista, como a exposição prolongada aos hormônios estrogênio ou progesterona utilizados no tratamento hormonal para reafirmação de gênero é um fator de risco conhecido para o câncer de mama, o rastreio também em importante neste perfil.

“Apesar de não haver protocolos estabelecidos, existe uma tendência em recomendar mamografia a partir dos 50 anos, a cada dois anos, também para mulheres trans com fatores de risco como, mais de cinco anos de terapia de reposição hormonal, história familiar de câncer de mama e obesidade”, diz. 

Marcela destaca ainda que não há necessidade de rastreamento específico, ou diferenciado, para as  mulheres trans com próteses de silicone.

“O câncer de mama em próteses de silicone está associado ao linfoma anaplásico de grandes células, um subtipo bastante raro de linfoma de células T. Os índices de cura são bastante altos, ultrapassando 90% dos casos, e a maioria das pacientes é tratada apenas com a remoção da prótese”, explica a médica.  

Dificuldade no sistema atrapalha atendimento a pessoas trans

Matheus Guilherme Contilio foi diagnosticado com displasia mamária, além de ter descoberto dois nódulos durante o auto exame.
Matheus Guilherme Contilio/Arquivo Pessoal
Matheus Guilherme Contilio foi diagnosticado com displasia mamária, além de ter descoberto dois nódulos durante o auto exame.

O bartender e garçom Matheus Guilherme Contilio, de 27 anos, descobriu nódulos em suas mamas quando realizou um  autoexame.  A partir deste episódio, ele conta que passou a travar uma batalha para que tivesse um  atendimento adequado na rede pública de saúde.

"Eu descobri os nódulos há aproximadamente três anos. Eu também sentia muitas dores na época, devido a uma displasia mamária que descobri depois, além da minha mama produzir galactorreia (produção de leite nas mamas de homens ou de mulheres que não estão amamentando)", explica o bartender.

Contilio conta que teve muita dificuldade quando foi buscar atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), e que viveu situações transfóbicas durante a experiência.

"Tive muita dificuldade de conseguir tratamento no SUS porque, pela minha identidade masculina, o sistema entendia que eu não tinha direito ao tratamento. Ele não me reconhecia como um homem trans, mas sim como um homem cis. Fui reinserido no Sisreg (Sistema Nacional de Regulação) cinco vezes", afirma.

O garçom afirma que foi após cerca de dois anos e meio que ele conseguiu o atendimento com uma médica mastologista: "Ela me disse que meus nódulos não eram malignos, mesmo não tendo realizado uma biópsia. Contudo, as dores persistem até hoje".

"Por conta das dores, tive que procurar um atendimento que me possibilitasse realizar a mastectomia masculinizadora . Tentei pelo SUS, mas não consegui", conta Matheus que atribui à " rede de apoio trans , e não à Saúde Pública" ter conseguido a cirurgia de retirada das mamas, que vai ocorrer na próxima terça-feira (25).

"Consegui a cirurgia pelo Hospital Universitário do Fundão [Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)], a partir de um amigo que realizou o procedimento lá e me levou junto quando voltou para realizar uma consulta de retorno. Expliquei minha situação para o médico que se sensibilizou e concordou em realizar a mastectomia", diz.

Matheus finaliza afirmando que a mastectomia não era um desejo dele no momento, e que por ter mamas flácidas uma fita tape ou academia poderiam ajudar na masculinização sem a necessidade da cirurgia. Contudo, ele não consegue malhar devido às dores intensas.

"Eu estou muito nervoso. É um misto de medo com felicidade, pois eu não escolhi realizar uma mastectomia, na verdade eu precise. Estou ansioso com toda a mudança que meu corpo vai sofrer, mas estou muito feliz por finalmente parar de sentir dores e poder ter uma vida normal", finaliza.












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