Nicole Veldeck, mulher trans de 26 anos que foi baleada no rosto após ofensas no Rio de Janeiro , registrou ocorrência, nesta quinta-feira (24), na 76ª DP (Niterói), que está responsável pelo caso. Ainda nesta tarde, Nicole realizou o exame de corpo de delito e fez o reconhecimento dos dois agressores.
A informação foi confirmada pela presidente de Direitos Humanos da OAB de Niterói, Andrea Kraemer, que está fazendo a assistência da vítima.
O fato aconteceu na segunda-feira passada (21), na Praça São João, no Centro de Niterói. Após ser baleada no rosto, Nicole foi socorrida para o Hospital Estadual Azevedo Lima e recebeu alta nesta quarta-feira (23), mas segue com a bala alojada na face. A ocorrência foi registrada na 78ª DP (Fonseca) ainda na segunda e encaminhada para a 76ª DP (Niterói).
O caso é acompanhado pela Coordenadoria de Defesa dos Direitos Difusos e Enfrentamento à Intolerância Religiosa (Codir), da Prefeitura de Niterói. O subsecretário Felipe Carvalho, responsável pela pasta LGBTQIA+, afirma que Nicole foi alvo de ofensas transfóbicas. Além disso, o incidente também envolve questões de intolerância religiosa.
"Ele se recusou a levar minha amiga na moto porque minha amiga era trans. Ele falou que não levaria 'v...' na moto. Foi quando começou a confusão", relatou a vítima.
No dia seguinte, o pai do agressor buscou por ela. Entretanto, eles se encontraram apenas na segunda-feira, quando Nicole trabalhava próximo à praça. Os dois suspeitos apareceram de moto e, após um diálogo sobre religião, o pai atirou contra ela.
"A gente já se conhecia. Ele me mandou mensagem no domingo e eu 'catei' a maldade dele. Quando foi na segunda-feira, eu desci para trabalhar. Ele me encontrou e disse: 'a gente tem que desenrolar essa discussão'. Eu falei que ia acender um cigarro na encruzilhada", contou Nicole.
O atirador, então, teria perguntado: "Então você gosta de macumba? Está bem protegida?". Umbandista, Nicole respondeu que sim.
"Ele deu uma volta, foi lá no ponto de mototáxi e colocou o filho dele para pilotar a moto. Ele veio na garupa. Eu estava acendendo o cigarro, ele parou na minha frente, levantou a arma e disse: 'Você gosta de fazer macumba'. Eu levantei a cabeça e ele deu um tiro. Eu consegui levantar e correr. Nessa hora, ele tentou dar outro tiro. O filho dele falou 'a outra está ali'. Ele quis ir em cima da minha amiga para dar um tiro nela. Eu comecei a gritar, o pessoal da praça começou a gritar. Foi quando eles deram fuga", concluiu.
Procurada, a Polícia Civil ainda não se manifestou sobre o caso.