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TRANSFORMAÇAO DA GUSA NODESTE EM AÇO VERDE DO BRASIL É UMA TENTIVA DE APAGAR UM PASSADO DE POBLEMAS

Publicada em 13/03/23 às 17:38h - 212 visualizações

por AÇAÍ VIP


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 (Foto: AÇAÍ VIP)




A cidade maranhense de Açailândia, a 562 quilômetros de São Luís, respira minério de ferro. Às margens da Estrada de Ferro Carajás, concentra três usinas siderúrgicas que processam matéria-­prima trazida das minas no Pará, a cerca de 300 quilômetros de distância. Se essa é a grande fonte de riqueza do município, também é origem de algumas mazelas que a cidade enfrenta.   Uma deles afeta especificamente um grupo de mais de 1 000 pessoas que vivem em uma área degradada pela poluição e por dejetos industriais despejados despejados de forma irregular sem nenhum controle. A situação é tão ruim que a localidade, vizinha das fábricas e conhecida como Pequiá, foi 

considerada inadequada para abrigar moradias e a população local aguarda a remoção para outro bairro, ainda em construção. “Além da mudança, são necessárias várias medidas mitigadoras e de recuperaçãoambiental na região”, diz o advogado Danilo Chammas, que representa os moradores. Desde 2016 eles aguardam a mudança para um conjunto habitacional do Programa Minha Casa, Minha Vida, 

erguido ao custo de 30 milhões de reais, boa parte deles custeada pela Caixa Econômica Federal (as empresas contribuíram com menos de um terço do total). 

Das siderúrgicas instaladas em Açailândia a partir da década de 80, três seguem em operação. Na cidade também existe um terminal de minério da Vale que as abastece de matéria-prima. Todas as empresas têm histórico de problemas ambientais e nos últimos vinte anos foram alvo de ações judiciais movidas por moradores da região e seus representantes. Há dois anos, o polo siderúrgico foi alvo de um relatório apresentado no Conselho de Direitos Humanos da ONU. No documento, é relatado um incidente em que uma das empresas despejou dejetos incandescentes de seu processamento industrial em área inapropriada e provocou queimaduras e contaminação de moradores. Na época do ocorrido, tal empresa era conhecida como 
Gusa Nordeste S/A, hoje rebatizada como Aço Verde do Brasil. Mais recentemente, a empresa foi alvo de duas denúncias por poluição ambiental no Ministério Publico do Maranhão. 
EIXO INDUSTRIAL - Trem de Carajás: fábricas poluidoras ficam junto à ferrovia

EIXO INDUSTRIAL - Trem de Carajás: fábricas poluidoras ficam junto à ferrovia (Corbis/Getty Images)
A empresa Aço Verde do Brasil é um exemplo de quanto é difícil para uma companhia que acumula  um passivo ambiental tão grande fazer uma transição real para o mundo da sustentabilidade. Procurada por VEJA, a companhia informou em nota que desde 2020 não produz ferro-gusa ou transporta gusa líquido em Açailândia. Atualmente, ela diz fabricar outros tipos de aço cujo processo é considerado mais limpo e que realiza o controle e monitoramento ambiental continuamente em suas instalações A empresa também afirma que cumpre todos os acordos celebrados com a Secretaria de Meio Ambiente do Maranhão e sua unidade que fabrica os novos produtos está licenciada e regulamentada até dezembro de 2023.

A transformação da Gusa Nordeste em Aço Verde do Brasil foi, na verdade, uma tentativa de apagar um passado de problemas e se posicionar como “a primeira usina siderúrgica 
 carbono neutro no mundo”. No discurso e na aparência, algumas conquistas foram realizadas. Em maio de 2021, a companhia divulgou a certificação de carbono neutro concedida pela consultoria suíça SGS pelo uso de carvão vegetal como alternativa a combustíveis fósseis, os grandes vilões do aquecimento global. O selo abriu portas para a empresa realizar a emissão de títulos verdes, em 2021 e 2022,

captando nas duas rodadas 650 milhões de reais para plantio de florestas de eucaliptos para a produção de seu “aço verde”. 

A realidade, porém, é mais complexa do que a retórica politicamente correta. Defender a causa verde simboliza uma mudança radical para uma empresa cujo controlador, o Grupo Ferroeste, de Minas Gerais , esteve envolvido há doze anos em um escândalo de comercialização de carvão vegetal vindo de fornecedores irregulares, em uma operação conhecida como Máfia do Carvão. Na ocasião, seus executivos fora presos. “A realização de projetos ancorados em sustentabilidade com emissão de títulos verdes não é uma garantia de que a empresa é referência nesse aspecto. É preciso uma estratégia muito mais ampla”, diz Cristóvão Alves, diretor da consultoria NINT, especializada no assunto. A condição atual dos moradores de Açailândia demonstra que esse patamar ainda está longe de ser alcançado.

Publicado em VEJA de 15 de março de 2023, edição nº 2832 

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/economia/siderurgica-do-nordeste-adota-discurso-verde-mas-ainda-longe-da-realidade/

















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