Neste 19 de abril é comemorado o Dia dos Povos Indígenas, porém, os indígenas LGBTI+ são os que mais sofrem violência no Brasil: 14,7% dizem ter sido fisicamente agredidos por agentes da força de segurança do País. O percentual representa mais que o dobro de agressões a pessoas brancas (5,7%). As informações constam na Pesquisa Nacional por Amostra da População LGBTI+, realizada pela ONG TODXS, que coletou dados de 15.326 pessoas.
O levantamento também demonstra que as agressões a LGBTI+ indígenas superam as de pessoas LGBTI+ amarelas, (12,9%), pardas (8,1%) e pretas (6,7%). Neste dia dos Povos Indígenas, em que a luta da comunidade ganha destaque, a pesquisa revela, ainda, como os indígenas LGBTI+ também são aqueles que mais sofrem discriminação. Por outro lado, são a população com mais desejo de participar politicamente entre os LGBTI+.
“Quando a gente fala de um grupo minorizado, a gente fala sobre um grupo que é marginalizado, reprimido e que sofre mais violência. Olhar para este grupo, no caso as pessoas LGBTI+, e colocar recortes de raça nos permite ver que a opressão e as violências contra ele são maiores”, explica o codiretor executivo da TODXS, Gabriel Romão.
“É extremamente importante a TODXS trazer não só dados das pessoas LGBTI+ no Brasil, mas também trazer esses dados com seus devidos recortes, para que a gente saiba, dentro da comunidade LGBTI+, quais são os subgrupos que mais necessitam de suporte social, político e da comunidade como um todo”.
Na pesquisa, a TODXS ainda perguntou se, no período de um ano antes da pesquisa ser realizada, as pessoas entrevistadas já haviam se sentido discriminadas por conta de sua orientação sexual. O número de LGBTI+ indígenas (79,5%) superou os percentuais das outras raças: 69% dos entrevistados que se identificaram como amarelos relataram discriminação por conta de orientação sexual; entre os entrevistados brancos, 71%; entre os pardos, 70%, e 74,6% entre os pretos.
Dentro de sala de aula, a discriminação também atinge mais indígenas LGBTI+. 5,38% disseram se sentir muito discriminados por professores, tutores ou coordenadores no Ensino Fundamental. 7,69% afirmaram se sentir constantemente discriminados. Em comparação com a população branca LGBTI+, 4,96% responderam se sentir muito discriminados, enquanto 4,25% se sentem constantemente discriminados.
Na pesquisa, é possível ver como está a vontade de mudança política do cenário acima. As pessoas foram questionadas se, para resolver problemas pessoais ou da comunidade, pediram ajuda ou cooperação a autoridades locais, como membros dos Poderes Executivos ou Legislativos. Entre as respostas positivas, a maioria é de indígenas LGBTI+: 9%. Em segundo lugar aparecem pessoas LGBTI+ pardas, com 7,7%.
Ainda conforme a pesquisa, indígenas LGBTI+ ocupam o segundo lugar entre aqueles que mais assistem a reuniões de partidos políticos ao menos duas vezes ao ano: 12,1%. O primeiro lugar, neste caso, é ocupado por pessoas LGBTI+ pretas, com 13%. “A gente percebe a necessidade que determinados grupos têm de um olhar mais cuidadoso, de projetos específicos e de mostrar pro poder público a demanda por ações estruturais que mudem esta realidade”, diz Romão.
“É extremamente importante termos representatividade nas articulações políticas para que seja possível uma mudança estrutural, real e de direitos para a população LGBTI+ toda. Hoje, a gente vê algumas pessoas da nossa comunidade nos representando, mas ainda é necessário ter outros recortes de raça, regional, e de idades dentro das representações políticas. Ainda se vê uma grande representação branca e do Sudeste dentro dos espaços políticos, por exemplo. Para que as políticas públicas sejam direcionadas adequadamente, a gente precisa das vozes de quem mais precisa delas”, continua.
A Pesquisa Nacional por Amostra da População LGBTI+ considerou 15.326 respostas validadas e foi desenvolvida ao longo de seis etapas: estruturação e planejamento, elaboração do instrumento de pesquisa (questionário), pré-teste do instrumento, aplicação do questionário, validação dos dados e redação do relatório. Iniciada 5 de abril de 2019, a pesquisa manteve sua aplicação online e coletou respostas de habitantes, maiores de 18 anos, das 27 capitais das Unidades da Federação.