Para viver Kelvin, o simpático garçom do bar de Cândida (Susana Vieira), em “Terra e paixão”, Diego Martins foi primeiro procurar o sotaque do personagem. E não é que nessa busca, quem diria, ele encontrou em Nicole Bahls sua inspiração?
— Eu sabia que Kelvin era um rapaz gay, do interior do Mato Grosso do Sul. Então comecei pelo sotaque, para entender que voz era essa. Peguei como referência Nicole Bahls (que é paranaense). Sempre fui muito fã de tudo o que ela faz. Ela é legal, sem filtro. Kelvin tem muito disso, também é espontâneo — diz ele, que completa: — Ela soube que me inspirei nela e me chamou no Instagram. Nunca tinha falado com ela e jamais imaginei que essa informação chegaria nela. Nossa, eu quase morri!
Mas não é só Nicole que tem entrado em contato com o ator desde que a novela das nove estreou há pouco mais de 15 dias:
— As pessoas têm me procurado muito nas redes sociais, e o feedback está sendo muito positivo! Até na rua estou sendo reconhecido. Já na primeira semana, o porteiro (do prédio em que está morando no Rio) veio falar que me viu, e um motorista de carro de aplicativo também. Ainda tive contato com meninos que são gays no Mato Grosso do Sul e se identificaram com Kelvin.
O papel marca a estreia do paulista, de 26 anos, em novelas, mas sua trajetória é extensa. Ator desde criança, o intérprete de Kelvin também é cantor e já integrou o elenco de diversos musicais. Na TV, soltando a voz, participou dos programas de calouros “X factor Brasil”, na Band, e do “Canta comigo”, da Record. Com sua drag, que se chama Diego como ele (“É para facilitar”, diz), o artista ganhou o “Queen stars Brasil”’, da HBO Max. Agora, a trama marca mais uma conquista.
Diego conta que desde pequeno mostrava seu lado artístico em casa, onde recebeu uma criação livre de preconceitos.
— Tenho vários vídeos performando pequenininho. Minha irmã (Bianca, de 24) sofreu, tadinha, mas se divertiu. Eu botava ela para atuar junto comigo — diz o paulista, que relembra: — Meus pais (João Bahia e Erika) são incríveis, tive uma criação muito livre! Minha mãe tinha uma bota que parecia com as que a Xuxa usava. Eu usava também, e minha mãe me filmava (risos). Eu me entendo como um homem gay desde cedo, e essa não é a realidade da maioria dos meus amigos. Eles (os pais) têm mais de 50 anos, são de outra geração, mas nunca precisei discutir. Eles são interessados em aprender. É uma pena que não é a realidade de todo mundo.
Casados há 28 anos, João e Erika estão acompanhando cada capítulo de “Terra e paixão”, cheios de orgulho do primogênito, conta Diego:
— Eles me ligam toda vez em que apareço. Gritam, filmam a TV... Era um sonho meu, mas da minha família também. Meu maior desejo é viver da arte e ter uma vida estável, porque sou muito pé no chão. Sei que estou na primeira novela, mas quero fazer outras 60!
Apesar de ter enveredado pelo caminho artístico desde pequeno, Diego também experimentou outras profissões. “No colégio, tinha várias opções de ensino técnico. Eu não queria ser nada daquilo, mas fui fazer para ter um plano B. Já trabalhei como técnico de informática, dei aula de inglês, trabalhei com festa de bufê, fui Olaf da ‘Frozen’...”, conta o paulista, que se mudou para o Rio recentemente por causa de “Terra e paixão”.
Homônima de seu criador, a drag Diego também é talentosa e já lançou músicas, como “Prazer”, que saiu em março. No TikTok, onde posta os vídeos na pele da personagem, o ator já acumula mais de dois milhões de seguidores. “Comecei a fazer drag em 2019, mas sempre fui interessado por essa arte. Só faltava um empurrãozinho. Aí comprei minha primeira peruca, depois a segunda... E, na pandemia, só ficava em casa me maquiando e fazendo vídeos”.